Ômega-3 e a saúde do cérebro

01/10/2012 13:27

Os ácidos graxos ômega-3 são lipídios (gorduras) poli-insaturados de grande importância para a manutenção da saúde. Recentemente, o consumo destes ácidos graxos despertou grande interesse dos pesquisadores em função das associações encontradas entre o seu consumo e a prevenção de doenças neurodegenerativas, principalmente em idosos. Os estudos têm demonstrado que portadores de enfermidades neurológicas como esquizofrenia, depressão, síndrome do déficit de atenção e hiperatividade têm menores teores de ácidos graxos ômega-3 nas membranas celulares. Além disso, evidências apontam que a deficiência de ômega-3 pode estar associada aos diversos problemas de comportamento, desordens neurológicas e psiquiátricas, como por exemplo, a depressão.

O tecido cerebral é predominantemente composto de lipídeos, incluindo os saturados, monoinsaturados e poli-insaturados. Dentre os ácidos graxos poli-insaturados, o ômega-3 representa cerca de 10 a 20% do total da composição de ácidos graxos do cérebro. Estes ácidos graxos são componentes estruturais fundamentais das membranas dos neurônios (células do cérebro) e estão envolvidos nos processos cerebrais e neuronais do sistema nervoso central. Sendo assim, ácidos graxos ômega-3 são essenciais durante todo o ciclo da vida para o desenvolvimento e funcionamento normal do cérebro.Atualmente, cerca de 25% da população acima de 85 anos possui um significativo comprometimento da atenção cognitiva. Estima-se que a prevalência global de déficit cognitivo e demência, incluindo doença de Alzheimer, irá aumentar significativamente em proporção ao aumento da expectativa de vida. A deterioração da memória e atenção cognitiva debilita gravemente o indivíduo, comprometendo diretamente sua qualidade de vida e a de seus familiares.

Ao que tudo indica, pessoas com alimentação deficiente em ômega-3 podem sofrer antecipadamente com o processo natural de envelhecimento do cérebro. Estas pessoas são acometidas mais cedo por problemas como a perda de memória e o declínio de habilidades cognitivas.

Os ácidos graxos ômega-3 beneficiam as funções cognitivas e a proteção do cérebro, pois exercem um papel de agente antioxidante e neuroprotetor. Estudos demonstraram que o ácido graxo docosahexaenoico ou DHA e o ácido graxo eicosapentaenoico ou EPA (dois ácidos graxos ômega-3) são antioxidantes nutricionais e reduzem a formação de radicais livres no cérebro e no fígado. Os radicais livres são moléculas instáveis que, para atingir a estabilidade, reagem com o que encontram pela frente, muitas vezes destruindo ou alterando moléculas importantes, como lipídios, proteínas, vitaminas e até mesmo o DNA celular. Uma vez alteradas, estas moléculas podem não desempenhar seu papel de maneira eficiente e correta e, uma das formas de diminuir a formação dos radicais livres é por meio de substâncias que agem como antioxidantes.

Apesar da importância do ômega-3 já estar evidenciada no meio científico, o consumo de ômega-3 pela população em geral, incluindo crianças e adolescentes, é frequentemente inadequado. Isso porque os hábitos alimentares e o ritmo de consumo da população dão preferência à ingestão de gorduras saturadas (como as presentes nas carnes, manteiga, queijos curados, bacon e banha). As gorduras saturadas são também importantes para o nosso organismo, porém em pequenas quantidades, já que em grandes quantidades podem causar sérios problemas para a saúde, como elevados níveis de colesterol, aterosclerose e infartos. 

Dentre os alimentos que constituem as principais fontes de ômega-3 estão os peixes de água salgada e os produtos derivados de peixes, tais como óleo de peixe. Alguns dos peixes ricos em ômega-3 são cavala, arenque, sardinha, salmão, atum e bacalhau. O ideal seria a ingestão de pelo menos duas porções de peixe por semana dando preferência as preparações assada, cozida ou grelhada.

Além dos peixes de água salgada, recomendam-se incluir outras fontes de ácidos graxos ômega-3 na alimentação. As nozes, castanhas, sementes de linhaça, azeite de oliva e óleos vegetais (canola e linhaça) também são importantes fontes de ácidos graxos ômega-3. É importante salientar que estes alimentos são fontes importantes por estarem ao maior alcance da população, entretanto, as melhores fontes são os peixes de água salgada.

Sendo assim, para a manutenção da saúde do cérebro, de forma a manter as habilidades cognitivas por diversos anos, o consumo de alimentos contendo ômega-3 é indispensável. 

Kélin Schwarz
Nutricionista M. Sc.
Doutoranda em Ciências-CENA/ USP
Sob orientação:  Profa. Dra. Jocelem Mastrodi Salgado

 

Referências:

 

Ubeda, N.; Achón, M. Varela-Moreiras, G. Omega 3 fatty acids in the elderly. British Journal of Nutrition, v.107, p.S137–S151, 2012.

Mazereeuwa, G.; Lanctôta, K. L.; Chaua, S. A.; Swardfagera, W.; Herrmanna, N. Effects of omega-3 fatty acids on cognitive performance: a meta-analysis. Neurobiology of Aging, v.33, p.1482.e17–1482.e29, 2012.

Fonte da Imagem: https://www.ufpe.br/restaurante/index.php?option=com_content&view=article&id=334:qual-a-diferenca-e-a-importancia-dos-acidos-graxos-omega-3-e-omega-6&catid=1:receitas&Itemid=270