Doenças crônicas não transmissíveis: sódio, açúcar e gordura os maiores vilões

16/04/2013 13:58

As doenças crônicas não transmissíveis também conhecidas como DCNT’s são, certamente, o mal do mundo moderno que acomete o cenário da saúde global ameaçando o desenvolvimento humano. Dentre elas estão à obesidade, doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, doenças respiratórias crônicas e alguns tipos de cânceres.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que 58% das mortes ocorridas no mundo estão associadas às DCNT’s e 46% das comorbidades mundiais são representadas por essas doenças. Essas estatísticas correspondem tanto a países desenvolvidos como aqueles mais pobres, ou seja, essas doenças já tomaram proporções em nível de preocupação global. No Brasil, segundo OMS, os índices de mortalidade causados pelas DCNT’s aumentaram em mais de três vezes entre os anos de 1930 a 2006, sendo a principal causa de óbitos até hoje, destacando-se em 29% dos casos os problemas no aparelho circulatório e 15% dos casos por câncer.

A causa do aparecimento e desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis é multifatorial, ou seja, vários fatores podem contribuir para que o quadro da doença evolua. Dentre esses fatores os principais são o tabagismo, consumo excessivo de bebidas alcoólicas, consumo excessivo de gorduras saturadas, consumo insuficiente de legumes, verduras e frutas e falta de prática de atividades físicas.

A grande explosão do aparecimento dessas doenças se deve principalmente pelos maus hábitos alimentares adquiridos pelos consumidores com o passar dos anos. Devido a uma vida cada vez mais atribulada, o consumidor procurou se alimentar com rapidez e praticidade, esse anseio veio de encontro com a criação das redes de alimentação rápida e a produção em grande escala dos alimentos industrializados.

Os fast foods, com suas refeições rápidas e práticas, nada mais é que um convite ao desenvolvimento das DCNT’s. Os alimentos servidos nessas redes apresentam elevadas concentrações de sal, em seus lanches, açúcar nos doces, guloseimas e refrigerantes e gorduras.

O outro fator se deve em grande parte, pelas indústrias alimentícias. No intuito de tornar seus produtos de melhor e maior aceitação, algumas dessas indústrias empregam determinados ingredientes nocivos à saúde. Além de conservantes e outros aditivos, há também o abuso de ingredientes do sódio, açúcar e gordura, ingredientes conhecidos por melhorar as características sensoriais dos produtos (sabor, textura, cor e odor), porém fortemente relacionados com as doenças crônicas não transmissíveis.

Sal e seus malefícios

O sal é um ingrediente relativamente barato. Além do mais, existem interesses tecnológicos, pelo fato dele tornar possível a diminuição da atividade de água em determinados produtos aumentando a vida de prateleira (validade) e atuação como agente antimicrobiano, ou seja, inibe a proliferação de alguns microrganismos que possam contaminar o alimento.

Porém o consumo em quantidades demasiadas pode acarretar em problemas graves à saúde como hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, complicações renais e retenção hídrica. Segundo a VIGITEL (Vigilância de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), programa governamental que realiza o levantamento dos casos das DCNT’s, no ano de 2012 a hipertensão arterial atingiu 22,7% da população brasileira e foi causa de 31,3% da mortalidade no país foi por complicações cardiovasculares, doenças essas relacionadas com o consumo excessivo do sódio.

O IBGE publicou dados mostrando que nos domicílios brasileiros o consumo de sal chega a 9,6 gramas/dia, enquanto que o consumo total pode atingir faixas de 12 gramas, representando duas vezes mais que o consumo recomendado pela Organização Mundial da Saúde que é de menos de 5 gramas por dia (equivalente a quatro colheres rasas de café). Produtos industrializados muitas vezes contribuem para a extrapolação desses limites, os salgadinhos consumidos amplamente por crianças e jovens possuem 7 vezes mais sódio do que o recomendado, já os biscoitos recheados, sucesso entre as crianças apresentam teores até quatro vezes maior, enquanto os doces e salgados contém 1,5 vezes a mais desse ingrediente.

Açúcar e seus malefícios

O açúcar é um carboidrato simples e uma das principais fontes de energia, porém esse ingrediente é pobre em nutrientes. Quando o açúcar é ingerido em excesso ocorre uma sobrecarga no pâncreas, glândula responsável por produzir insulina que converte a sacarose em glicose. Em níveis elevados o excesso de glicose não consumido pelo corpo é armazenado em forma de gordura no organismo o que induz ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis como obesidade, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, diabetes entre outros problemas.

A quantidade recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desse ingrediente não deve ultrapassar de 10% das calorias totais da dieta, ou seja, um indivíduo que consome 2000 calorias por dia não deve ultrapassar 200 calorias diárias de açúcar. Um grama de carboidrato contém 4 calorias, por tanto a ingestão de açúcar desse indivíduo não pode ser maior que 50 gramas/dia.

Tomando uma lata de refrigerante, você estará consumindo equivalente a 10 colheres de sopa de açúcar, toda a quantidade recomendada por dia a um adulto. Se tomar uma lata por dia, ao fim do mês você terá ingerido cerca de 1 quilo de açúcar.

Gorduras e seus malefícios

Segundo a OMS, a quantidade de gorduras totais ingeridas não pode ultrapassar o valor de 15-30% das calorias totais de uma dieta diária. Dentro dessa porcentagem, as gorduras saturadas (aquelas encontradas em doces, frituras e produtos industrializados) devem ser menores que 10% e o restante devem ser representados pelas gorduras poliinsaturadas, também conhecidas como gorduras boas, como o ômega-3 encontrado comumente em peixes e nozes.

O erro se dá na quantidade excessiva ingerida dos saturados sobre os insaturados. Alimentos ricos em gorduras saturadas contribuem para o aumento do colesterol sanguíneo, contribuindo assim para a formação de placas de ateroma, redução do HDL e aumento do LDL, aumentando assim a ocorrência de doenças cardiovasculares. A gordura em excesso também se acumula no corpo em forma de adipócitos levando a casos de obesidade, geralmente o primeiro estágio para o desenvolvimento de várias outras DCNT’s. A substituição na alimentação de uma gordura pela outra contribui para uma melhora na saúde.

Legislação e algumas medidas

Com a preocupação da proliferação acelerada das doenças crônicas não transmissíveis, a legislação brasileira vem tomando medidas que visam reduzir as quantidades de sódio, açúcar e gordura nos produtos industrializados.O Ministério da Saúde firmou compromisso com a indústria de alimentos o compromisso na redução gradual do sódio em 16 categorias de alimentos até o ano de 2014. Alguns dos alimentos que devem ter o seu teor de sódio reduzido estão:

Alimento

Teor atual de sódio

Meta de teor de sódio

Redução

Pão francês

648 mg/ 100 g

586 mg/ 100 g

2,5% ao ano até 2014

Batatas fritas/palha

720 mg/ 100 g

529mg/ 100 g

5% ao ano até 2016

Salgadinhos de milho

1.288 mg/ 100 g

747 mg/ 100 g

8,5% ao ano até 2016

Bolos prontos

463 mg/ 100 g

Entre 204 mg/100 g e 332 g/100 g (meta varia conforme o tipo de bolo)

7,5% a 8% ao ano até 2014

Misturas para bolos

568 mg/ 100 g

334 mg/ 100 g (aerados), 250 mg/100 g (cremosos)

8% a 8,5% ao ano até 2016

Biscoitos

1.220 mg/ 100 g (salgados), 490 mg/ 100 g (doces) e 600 mg/ 100 g (doces recheados)

699 mg/ 100 g (salgados), 359 mg/ 100 g (doces) e 265 mg/ 100 g (doces recheados)

7,5% a 19,5% ao ano até 2014

Maionese

1.567 mg/ 100g

1.052 mg/ 100g

9,5% ao ano até 2014 

A indústria de alimentos está diante de um dilema: "Como reduzir o teor de sódio, açúcar e gordura nos alimentos sem alteração drástica no sabor do produto", porém essa problemática deve ser superada. A redução desses ingredientes visa não só melhorar a dieta dos brasileiros como prevenir o aparecimento de diversas doenças relacionadas com o consumo excessivo destes, garantido bem estar e qualidade de vida da população.

Algumas maneiras para reduzir o sal, açúcar e a gordura na dieta habitual

O sal pode ser reduzido na dieta com o uso das especiarias. O alecrim, cebolinha, salsinha, o limão e outros condimentos costumam melhorar o sabor dos alimentos, fornecendo sensações que são substituíveis pelo sabor salgado. Seja cauteloso com o uso dos temperos industrializados, observe a rotulação e verifique a quantidade de sódio ali presente, muitas vezes nesses produtos as quantidades de sal extrapolam a recomendação diária.

A redução do açúcar pode ser feita de várias maneiras. Evitar o consumo do refrigerante é uma das principais alternativas. Essa bebida contém altos teores de açúcar, opte por sucos de frutas naturais, água de coco, são opções muito mais saudáveis. Trocar as sobremesas açucaradas, como doces e sorvetes por frutas é uma ótima alternativa, além das frutas conterem diversos compostos benéficos à saúde como antioxidantes e fibras, elas apresentam baixos teores de açúcar, e a frutose (açúcar natural da fruta) é de fácil absorção e exige menos insulina para ser absorvida pelo organismo.

Evite frituras e aquela gordurinha extra que vem nas carnes. Com as dietas habituais, facilmente ultrapassamos a quantidade de gordura recomendada por dia, pois consumimos também outros alimentos que contém os lipídeos como o leite e seus derivados, principalmente o queijo, manteiga, margarina, carne vermelha.

Fique alerta! É importante reeducar sua dieta e observar a rotulagem dos alimentos, sempre verificando as quantidades desses três ingredientes alimentares naquele produto que você consumidor leva para sua casa. Reduzi-los em sua alimentação acarretará em qualidade de vida, bem estar e saúde, requisitos básicos para uma vida feliz.

 

Antônio Thiago Matos Carvalho Santana
Engenheiro de Alimentos-UFMT
Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos-ESALQ/USP
Sob Orientação: Profª. Drª.Jocelem Mastrodi Salgado