Alimentos Orgânicos

10/09/2013 09:06

Nos últimos tempos têm-se ouvido falar cada vez mais em alimentação consciente e consumo sustentável, temas de ordem para uma geração antenada para os problemas relacionados com o meio ambiente e com a alimentação. É neste contexto que se inserem os alimentos orgânicos, um assunto muito discutido, mas que ainda não está totalmente esclarecido para a maioria das pessoas.

De modo geral, os alimentos orgânicos são vistos como mais seguros, mais nutritivos e mais caros do que os alimentos não-orgânicos, mas por quê? O que impulsiona esse consenso? É realmente verdade? Para responder estas perguntas e abrir o diálogo para o melhor julgamento a respeito do tema vamos nos aprofundar nas pesquisas e nos fatos e ver o que estes nos dizem.

Inicialmente, é preciso saber que no Brasil, os alimentos orgânicos são regulamentados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e, de acordo com estas regulamentações, o alimento orgânico é aquele produzido em sistemas que contemplam o uso responsável do solo, da água, do ar e dos demais recursos naturais, que não utilizam agrotóxicos (inseticidas, herbicidas, fungicidas, nematicidas) e outros insumos artificiais tóxicos (adubos químicos altamente solúveis), organismos geneticamente modificados ou radiações ionizantes. Esses elementos são excluídos do processo de produção, transformação, armazenamento e transporte, privilegiando a preservação da saúde do homem, dos animais e do meio ambiente, com respeito ao trabalho humano.

Estima-se que no Brasil existem cerca de 15 mil produtores de alimentos orgânicos que cultivam uma área de aproximadamente 880.000 hectares (MAPA, 2011). Para que esta produção possa ser comercializada como “orgânico”, os produtos devem ser certificados por organizações credenciadas pelo MAPA. Se forem certificados, os produtos podem conter o selo do Sistema Brasileiro de Conformidade Orgânica, conforme mostra a figura ao lado.

Atenção! No caso de alimentos que levam diferentes ingredientes, como no caso de uma geleia, para o produto ser considerado orgânico, ele deve ser elaborado com pelo menos 95% de ingredientes orgânicos certificados, com exceção de água e sal, que não são incluídos no cálculo do percentual dos ingredientes. Sendo assim, no rótulo destes produtos poderá haver a expressão “orgânico” ou “produto orgânico”. Já alimentos orgânicos que apresentam entre 70% a 95% de ingredientes orgânicos certificados podem conter na rotulagem a expressão “produto com ingredientes orgânicos”. Produtos que não se encaixam nestas especificações não podem conter nos rótulos as expressões “produto orgânico ou produto com ingredientes orgânicos”.

Por exemplo, para fazer um biscoito “orgânico”, o transformador deve encontrar farinha que foi produzida de forma orgânica, açúcar orgânico e assim por diante para então fazer o processamento. Até mesmo o transporte deste produto deverá ser separado do similar convencional.

Cuidado para não confundir “orgânico” com alimento “integral” ou “hidropônico”. Os alimentos integrais nem sempre são orgânicos, mas sim alimentos que sofreram menores transformações, como no caso do arroz integral, que pode ser orgânico ou convencional. Já o alimento hidropônico é aquele que foi produzido sem o uso do solo e em sistema convencional, não orgânico.

Agora que sabemos como o alimento deve ser para ser considerado orgânico, quais são as diferenças entre alimentos "orgânicos" e "convencionais"? Vários são os estudos que buscam traçar as diferenças entre alimentos orgânicos e convencionais, vejamos as principais características pesquisadas.

Em relação ao tamanho e a forma, há quem diga que os produtos orgânicos são muito diferentes dos convencionais, pois se apresentam menores e em formatos que não são padronizados. Em verdade, os produtos orgânicos têm tamanho e aspecto normais, e podem não ser padronizados quando não são classificados, o que ocorre mais frequentemente em produtos convencionais. Os vegetais convencionais é que, muitas vezes, são maiores devido ao uso excessivo de fertilizantes.

Quanto à qualidade organoléptica, ou seja, sabor, cor e odor, estudos conduzidos em diversas regiões do mundo chegam as mais variadas conclusões, e o que se pode dizer, na maioria das vezes, é que produtos orgânicos e convencionais apresentam características organolépticas muito similares.

Sobre as diferenças do conteúdo nutricional, embora muitas pesquisas tenham revelado uma superioridade de nutrientes como vitamina C e compostos fenólicos em alimentos orgânicos, isso não pode ser firmado como verdade absoluta, visto que estudos recentes têm mostrado que as diferenças nutricionais entre orgânicos e convencionais são geralmente muito pequenas. Na verdade ainda existem várias pesquisas em curso sobre o tema e mais ainda são necessárias, para então obter dados mais conclusivos.

Talvez as diferenças mais importantes entre alimentos orgânicos e convencionais estejam nas diversas substâncias utilizadas na produção de alimentos convencionais, como os agrotóxicos, medicamentos veterinários, certos aditivos alimentares e fortificantes, que não são permitidas na produção de alimentos orgânicos.No caso dos agrotóxicos, embora estes não sejam permitidos na agricultura orgânica, sabemos que há a contaminação de águas e do ar por estes produtos e, por vezes, pode haver resíduos de agrotóxicos em alimentos orgânicos, porém a quantidade de resíduo, se houver, é muito inferior àquela presente em alimentos convencionais, principalmente quando os prazos de carência de alguns agrotóxicos não são respeitados.

Os contaminantes microbiológicos, como as bactérias, geralmente estão presentes em ambos os tipos de alimentos (orgânicos e convencionais) e em diferentes níveis de contaminação. Alguns estudos revelaram que produtos orgânicos têm menor contaminação microbiológica, enquanto que outra pesquisa encontrou o oposto. Apesar se a presença de contaminantes microbiológicos variar muito entre os dois tipos de alimento, pode-se afirmar que existe uma baixa incidência de microrganismos resistentes à antimicrobianos em produtos orgânicos.

Em termos de contaminação por metais pesados como chumbo, cádmio e mercúrio, os produtos orgânicos e convencionais não apresentaram diferenças. Outros contaminantes, como os nitratos (encontrados em fertilizantes sintéticos) são inferiores em produtos orgânicos, embora possam estar presentes em alguns destes alimentos.

Além disso, alimentos de origem animal orgânicos, tais como ovos, queijos e carnes provenientes de animais criados com alimentação orgânica e sem a utilização de antibióticos (exceto em certas circunstâncias) e hormônios de crescimento, são produtos com menos substâncias artificiais (conservantes, resíduos de antibióticos) do que os equivalentes convencionais.

Sobre as diferenças em relação ao preço, os produtos orgânicos têm-se apresentado mais caros, principalmente em supermercados, porém nas feiras orgânicas, os preços geralmente são equivalentes aos das feiras convencionais, para a maioria dos produtos.

Portanto, apesar dos esforços para o entendimento das reais diferenças entre alimentos orgânicos e convencionais, ainda são necessários muitos estudos para chegar a resultados mais conclusivos. O que se pode afirmar sem dúvidas, é que o estilo de vida sustentável está ligado com os alimentos orgânicos e que as principais vantagens do consumo destes alimentos dizem respeito ao modo como os alimentos são produzidos, com respeito ao meio ambiente.

Kélin Schwarz

Nutricionista M. Sc.

Doutoranda em Ciências-CENA/ USP

 

Sob orientação:  Profa. Dra. Jocelem Mastrodi Salgado

 

Referências:

www.foodsentry.org

www.agricultura.gov

 

DAROLT, M. R. Comparação da Qualidade do Alimento Orgânico com o Convencional. In: STRIGHETA, P.C & MUNIZ, J.N. Alimentos Orgânicos: Produção, Tecnologia e Certificação. Viçosa: UFV, 2003, p. 289-312.